sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Apropriação Cultural porque é Carnaval




No Brasil, nenhuma outra época, me parece mais apropriada para se falar em Apropriação Cultural, do que a do Carnaval. 

Apropriação Cultural é a adoção de alguns elementos específicos de alguma cultura (minoritária) por um grupo cultural diferente (dominante). 

O clima de carnaval está solto nas ruas. A Globeleza vestiu-se com várias fantasias e os sambas enredo,  as baterias das escolas com suas belas mulatas, desfilam já há mais de um mês em nossas telas. Os jornais noticiam reclamações em torno da liberação, ou não, de verbas públicas para as festas e mostram o "esquenta" e ensaios nas quadras.

Na maior festa popular do Brasil, vemos negros com brancos na mesma ala, cabelos crespos ou lisos, dread, chapinha ou escova progressiva, carecas naturais ou raspadas, enormes volumes de fios próprios ou preenchidos com "cabelo do outro" americanizado com o nome de megahair. Na cabeça levam chapéus, turbantes, lenços, tranças, tiaras de penas coloridas e brilhantes de pura purpurina. Em tempos de carnaval, no Brasil, tudo pode.

As escolas desfilam com o enredo que seus dirigentes e comissões escolhem. A variação se abre feito um leque entre culturas dos mais diferentes países. Alguns temas entram na avenida, repetido em anos anteriores. Xingu (Imperatriz), artistas (Ivete Sangalo - Grande Rio) (Noel Rosa - Vila Isabel), Tropicália (Paraíso do Tuiuti), África (União da Ilha), de roupagem nova, desenhada por seus carnavalescos. 

Vamos assistir o desfile da Unidos da Tijucas com a audaciosa mistura de Pixinguinha e Louis Armstrong. Levando em conta o gingado desses dois, só pode dar certo.

Um belo contraste de culturas podemos esperar entre o conto árabe de "As mil de uma noites de uma "Mocidade"pra lá de Marrakech" e a Divina Comédia (Salgueiro) do italiano Dante Alighieri. Exportado da Europa veremos ainda a São Clemente mostrando a França num período de reis e rainhas com muito luxo antes da Revolução. 

A Portela vem com o meio ambiente, a Beija Flor com José de Alencar. 

E a Mangueira vai desfilar mostrando como o brasileiro lida com a religiosidade. Seu samba enredo "Só com a ajuda do santo" é muito apropriada para o momento atual. Em terra, dita abençoada por Deus, onde pessoas, que em nome de uma tal de apropriação cultural, se dão o direito de desrespeitar quem quer que seja por usar um turbante, SÓ COM A AJUDA DO SANTO...

Que vença a Mangueira pela mensagem que traz o título do seu samba enredo.

Descrição detalhada das fotos para acesso do deficiente visual (para saber mais clique aqui - Foto-adesivo de propaganda do título do samba enredo da Escola de Samba Mangueira, reprodução divulgação do FB.

Um comentário:

Karina disse...

Lindo texto Raquel! Bem isso mesmo o que vc escreveu. Só com ajuda do Santo para aguentar tanto mimimi! Se cada um vivesse sua vida plenamente, não teríamos tanta implicações e donos de culturas.