sexta-feira, 10 de junho de 2022

Campo Grande (MS) - A Cidade Morena

Legenda #PraCegoVer: Card de fundo bege com três fotos. No alto à esquerda estou de blusa presa e calça comprida vermelha na Praça das Araras. Três esculturas da esquerda para a direita: arara azul, arara azul de peito amarelo e a arara vermelha. No alto à direita foto panorâmica da cidade de Campo Grande com um lindo pôr do sol entre prédios. Embaixo à esquerda está escrito o nome do post do blog e à direita foto em frente ao Monumento Maria Fumaça e do selfie point de Campo Grande.


A origem do nome "Cidade Morena" vem da cor vermelha da terra. Diz a história que Dom Aquino, arcebispo de Cuiabá, viajava pelo interior do Estado, transportado em carro de boi, trajando bata de cor branca. Quando chegava a Campo Grande, a batina estava marrom, daí ele apelidou Campo Grande de Cidade Morena. Dá mesma forma, baseado na natureza o arcebispo denominou Cuiabá a "Cidade Verde" e Corumbá de "Cidade Branca" por estar assentada sobre uma formação de calcário. 

Porém, Campo Grande, a Cidade Morena, também poderia ser chamada de a Cidade Sorriso, a Cidade dos Olhos Rasgados, a Cidade dos Cabelos Negros e Lisos, a Cidade Indígena,  a Cidade das Árvores, a Cidade Pôr do Sol e tantos outros codnomes que naturalmente caracterizam esta capital.

Ela é uma cidade quente que te permite caminhar no calor de 30º graus sob o frescor de árvores tombadas Patrimônio Público. O verde que há por todos os lados faz um lindo contraste com o perfeito azul do céu e com as araras de peito amarelo que gorjeiam sinalizando seu voo pelas ruas centrais. 

Uma cidade que tem uma orla, também de nome Morena, mesmo que esta não margeie um mar ou rio. Direito adquirido como senhora das 33 nascentes de água que brotam da sua terra.  Quanto aos rios que cortam a cidade, não importa o tamanho, eles são chamados de córregos. E justamente na confluência dos córregos de nomes poéticos Prosa e Sossego é onde é o marco zero da cidade.

As características únicas de Campo Grande não param por aí. A cidade tem três grandes datas comemorativas: 1872 a data da fundação pelo mineiro José Antonio Pereira; em 26/08/1899 a data da emancipação e 1979 a instalação como Capital, pela Lei Complementar nº 31 de 11 de outubro de 1977 que criou o Estado do Mato Grosso do Sul.

Em se tratando do nome do Estado não cometa pecado maior do que se referir a ele usando o nome do Estado do qual se originou. Não tenha preguiça, não queira resumir, não abrevie palavras, nunca diga só Mato Grosso, e sim, Mato Grosso DO SUL. Hoje ele é considerado um dos quatro melhores Estados do país em matéria de agronégocio, investimentos e o povo sul-mato-grossense é bairrista e um entusiasta pela sua terra.

Carlos Iracy professor de guia turístico para o Senac (MS) aponta as particularidades da cidade com orgulho. Conta a história da fundação até a evolução como Capital, fala com entusiasmo dos 200 ninhos de arara-canindé que existem na cidade,  mostra a rua Cardoso, a principal da área central, revitalizada com fiação subterrânea, além dos sinais de inclusão e mobilidade para deficiente colocados nas calçadas e semáfaros.

Reconhecidamente, Carlos enfatiza a parte cultural e histórica de Campo Grande. Cita o complexo "Armazém Cultural" na antiga estação ferroviária, tombada Patrimônio onde será criado o centro de memória dos ferroviários. "Os trilhos do trem foram removidos para fora da cidade", lamenta o guia embora reconheça a necessidade: "De 1914 até 2000 os trens passavam pelo centro de Campo Grande".  O monumento Maria Fumaça, de 2018, mostra a importância que esse meio de transporte trouxe para o desenvolvimento da região.

Foto da esquerda mostra o prédio que serviu de transição quando da instalação do governo de Mato Grosso do Sul e a da direita mostra o arte ilustrada da índia kadinéu.

 

Quem passa pelo centro, na rua 14 de julho esquina com a 15 de novembro, enxerga de longe o mural desenhado na parede do alto um prédio. A obra,  desenvolvida pelos artistas Gramaloka e Hyper, é a de uma índia kadiwéu grávida, com uma arara no ombro e uma espada de São Jorge na mão.

Em uma cidade jovem qualquer prédio com 70 anos já é considerado antiguidade. Parabéns aos sul-mato-grossenses que pensam assim, pois está é única forma de escrever a história. Sob esse aspecto Carlos mostra a antiga construção onde funcionava a Receita Estadual,  anterior a divisão dos Estados. "Foi um período de transição, de muita mudança, de dificuldades, quando a região passou a ter a sua independência territorial e administrativa. Em janeiro de 1978 foi feita indicação de um interventor e esse foi o prédio que abrigou o processo". Hoje ainda pertence a administração pública estadual, onde funciona orgãos da educação e cultura,  museu de arqueologia, museu de arte e som.

Mas como conhecer uma cidade tão antiga e tão nova como capital, tão brasileira e de costumes e hábitos tão orientais, de araras voando por entre os canteiros centrais das avenidas? Eu,  fiz este tour com o guia Carlos que falou sobre a história, a colonização a transição geopolítica, lugares turísticos. Além disso caminhei sozinha pelas ruas e saí com amigos para o espumante e café da tarde e a feira de comidas de noite. No caso de Campo Grande ir ao Mercadão e a Feira Central é obrigatório. O resultado foram risadas e descobertas de detalhes que só os moradores das cidades conhecem. Não saia de lá sem beber tereré, comer sopa paraguaia, sem provar Baru, a melhor das castanhas.

A CULTURA JAPONESA EM CAMPO GRANDE

Campo Grande tem a terceira maior colônia de imigrantes japoneses do Brasil. São cerca de 15 mil descendentes, considerando até a 4a geração, conforme dados oficiais de 2018. "Dos descendentes que vivem em Campo Grande, 70% são da província de Okinawa. Com isso o município é um dos únicos do país, e até do mundo, que ainda falam o dialeto da ilha fora do Japão". informação do site Campo Grande News.

À esquerda foto do Sobá e à direita a placa comemorativa aos colonizadores japoneses de Okinawa em Campo Grande.
  

A vinda de japoneses para essa região do Brasil aconteceu em 1909 em um navio pelo rio Paraguai atraídos por trabalho na construção da ferrovia Noroeste próximo a Corumbá. Mas o que de fato encantou os imigrantes foi o solo rico próprio para a agricultura onde se adaptaram e decidiram se fixar.

Na bagagem trouxeram a cultura, os hábitos e alimentação japonesa tão forte a ponto de transformá-la em um prato típico de Campo Grande. O Sobá.  Com direito à monumento e festa anual da Feira Central, o Sobá é uma comida preparada com macarrão originário do Japão feito a base de trigo sarraceno.  Acompanha carne picada, tempero verde e ovo cozido, é servido dentro de um prato tipo bowl mergulhado num caldo preparado com osso de boi e legumes cozidos por cerca de 6 horas.  No Japão, o caldo é feito com o osso do porco, de peixe e legumes e leva de 6 a 9h de cozimento.  A escolha pelo tipo de caldo fica como opção e gosto de cada um. Diferente do original, no sobá de Campo Grande, acrescenta-se shoyo. Uma adaptação ao paladar brasileiro.

Para oficializar a importância desses imigrantes, em 2014, o governador de Okinawa veio do Japão acompanhado de uma delegação de 200 pessoas. Para marcar o evento foi inaugurada uma placa comemorativa da chegada dos primeiros japoneses em Campo Grande. Uma colônia forte representada em clube próprio, manifestação das tradições e  promovem cada vez mais o intercâmbio de estudo e trabalho com o Japão.

AQUÁRIO DO PANTANAL -  BIO PARQUE 

Depois de tantos problemas enfrentados nos 11 anos desde o início da construção, a hora é de festejar. Idealizado para ser uma atração turística internacional ele tem também como objetivo a pesquisa científica e a educação ambiental. Ele será habitado por cerca de 10 mil animais subdividido por mais de 250 espécies.

É um dos maiores aquários de água doce do país localizado na capital Campo Grande. Sem dúvida a maior atração da vida animal pantaneira, o jacaré, está lá, velado como rei com todos os cuidados que o meio ambiente exige. Com 19mil m2 de área construída tem 33 tanques totalizando um volume de 5 mil m3 de água. Aquário do Pantanal - Bio Parque é o nome popular do Centro de Pesquisa e readaptação da Ictiofauna Pantaneira.

Um projeto do arquiteto Ruy Ohtake, falecido em 2021. O Museu Interativo da Biodiversidade, dentro do mesmo complexo, tem como principal objetivo divulgar a biodiversidade do pantanal sul-mato-grossense.


PARQUE DAS NAÇÕES INDÍGENAS

O Parque das Nações Indígenas é um parque urbano "gigante", como dizem os sul-campo-grandenses, com infra-estrutura de lazer e esporte às margens de um lago formado pela águas da nascente o córrego Prosa. Uma particularidade deste espaço é possuir um parque infantil adaptado para crianças com deficiência. Além de local para apresentações culturais, a Concha Acústica Helena Meirelles, Museus e monumentos destaques para:

À direita foto da Cascata no Parque, em cima à esquerda Monumento ao Cavaleiro Guaicuru e embaixo foto panorâmica do Aquário do Pantanal.
 

- Cascata no Parque: A barragem que represa o lago formam cascatas em dois níveis junto a jardinagem e formam um belo cenário do parque.

- Monumento ao Cavaleiro Guaicuru: O monumento, obra do escultor sul-mato-grossense Anor Mendespor, representa o índio guerreiro da etnia Guaicurus. A obra tem 7 m de altura e está em uma ilha do lago com acesso por uma ponte de madeira.

- Momumento  ao Índio: Está localizado na área central do parque, projeto do arquiteto Roberto Montezuma. É um obelisco em formato de zarabatana em homenagem às culturas indígenas do Estado do Mato Grosso do Sul.

PARQUE DOS PODERES

O parque abriga as sedes administrativas dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Mas o habitante e primeiros donos naturais do lugar são os quatis, pacas, tucanos, araras, mutum em perfeita harmonia com a natureza. Conviver entre esses animais faz parte do cotidiano de quem usa o parque para o trabalho ou lazer.

O local cívico e urbanístico possui avenidas para ciclismo, caminhadas, corridas. Repetindo a fala dos sul-mato-grossensses: "é gigante". Dirigir por essas avenidas exige cuidado redobrado. 

 

MUSEU LÍDIA BAIS MORADA DOS BAIS

É um dos cartões postais no centro da capital. Lídia Baís é uma grande artista que se destacou também pelo temperamento irreverente e inquieto.

Obs. Não foi visitado por estar sendo restaurado, porém não pode deixar de ser citado.

Legenda de foto para acesso do deficiente visual. #pracegover. Arte de Leticia Rieper.- Seu blog dá acesso ao deficiente visual?