quinta-feira, 29 de outubro de 2020

A arte do tricô por Lisi Margaux



Foi depois dos 50 anos que a carreira de Lisiane Busmann Ferreira se redefiniu quando passou a se dedicar ao tricô com uma nova perspectiva. Envolvida há muito tempo na arte de tricotar, ela decidiu fazer desta prática a sua atividade principal. 

A paixão pela trama, resultado do trabalho de duas agulhas e um fio, começou quando criança com a mãe, tias e as avós, fazendo roupas de boneca. A atividade foi aperfeiçoada pelas aulas de Artes Femininas no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, em Curitiba, e aos 13 anos tricotou a sua primeira blusa.

O novo mundo do tricô começou quando decidiu promover o chamado Dia Mundial de Tricotar em Público. O evento comum na Europa, mais ainda nos Estados Unidos, aconteceu num Shopping da cidade. Lisi conta que ninguém acreditava que uma desconhecida pudesse realizar o evento. Ela surpreendeu a todos e a si mesma quando conseguiu reunir em torno de 150 pessoas. A partir de então, com a divulgação nas redes sociais, foi procurada por blogueiras, deu entrevista para a revista do shopping e viu sua trajetória se transformar completamente.


 

A dona da página do Facebook Lisi Margaux Tricots, uma homenagem a sua mãe Liane Margot, revela que sua vida mudou há cerca de 6 anos. "Em 2003, meu marido comprou duas franquias e por 13 anos trabalhei com ele. Quando vendemos as empresas eu fiquei com o tempo ocioso" diz. Foi quando, já com os filhos crescidos, procurou outras ocupações como participar de grupos de bordado, academia, grupos de literatura e decidiu por dar aulas de tricô. A princípio ensinava em uma loja de bordados e patchwork. 

Não menos importante para a carreira de Lisiane foi quando passou de assistente do Congresso Brasileiro de Tricô para palestrante e hoje atua na organização dos eventos. Já deu aulas no Encontro Gaúcho e fez trabalhos como “tester” para uma tricoteira e designer italiana. A partir daí Lisi entra num mundo do tricô pouco conhecido por muitos. Ela explica: "Quando uma receita é criada, para poder lançar em revistas, é preciso que várias pessoas a executem sem a  orientação de quem criou para ver se a receita funciona". Esse é o papel do "tester" aprovar receitas de tricô.

Outro assunto desconhecido de uma grande parte do público é o alto custo de algumas agulhas de tricô. Recentemente, diz ela: "para confeccionar uma peça tive que comprar um par no valor de 150 reais". Para minha admiração ela revela que existe jogo de agulha que custa até 1000 mil reais. E confessa: "Isso é algo que no começo eu não conhecia. Sabia que existia, mas não conhecia". É realmente outra realidade, outro padrão de trabalho.

Encantada pelo que faz, afirma: "Há tricôs de todos os níveis, a gente tem que tricotar para ser feliz. Eu ajudo qualquer pessoa a aprender a partir daquilo que ela está pronta para fazer". Se é o tricô simples que ela sabe fazer, trabalha-se o tricô simples", e confessa: “é do ponto meia o que eu mais gosto de tecer”. Para garantir um ponto perfeito ela recomenda usar um fio que tenha textura e cores para disfarçar as imperfeições. 

Mesmo disposta a ensinar qualquer pessoa, ela diz que procura "atender as que trabalham da maneira como eu gosto de trabalhar, que estudem a técnica para desenvolver a peça, alunas que querem evoluir". Na página do Facebook criou o projeto TJ – Tricotar Juntos - que funciona da seguinte forma: é postado um modelo e oferecida a opção de formar um grupo que queira tecer aquela peça. É cobrado um valor único de inscrição e "neste caso, dou todo o apoio necessário para desenvolver a peça, da escolha dos fios à tricotagem", explica.

 

Outra opção que há, continua: "é quando uma aluna traz um modelo importado com receita em inglês. Nesse caso faço a tradução, cobro por página traduzida e dou as instruções para a confecção". Como segunda opção: "Se ela não quiser exclusividade e desejar baratear o custo, também é possível lançar no formato Tricotar Juntos".

Lisi comenta sobre a dificuldade de encontrar literatura de tricô. Em 2019 quando deu aulas no Encontro Gaúcho precisou comprar livros importados e declara: "o que recebo por aula não paga o elevado custo desse material". Quando viaja para visitar o filho, que mora na Inglaterra, aproveita e adquire material, estuda e faz cursos.

Quando procurada para tecer uma peça ela só aceita quando a pessoa define o que deseja. Se for para desenvolver o designer, é cobrado este trabalho acrescido do material que a cliente escolher. Essas encomendas "são de valores que variam de 100 a 600 reais, dependendo do fio, nacional ou importado, que  vai ser usado". Por esse motivo ela não faz peças para lojas porque não cobrem o custo e a hora trabalhada. "O peço final não fica vendável" afirma. Mas, já fez peças exclusivas para capa de catálogo de uma boutique do Rio de Janeiro e outra usada por uma modelo em propaganda de televisão. 

Ainda sobre custo e qualidade, conta que neste inverno tricotou uma echarpe, para o filho, em fio Mohair com seda que ele mesmo comprou na Suíça. "Nesta echarpe foram usados dois novelos pelos quais pagou 60 libras" e completa: "No Brasil não temos fio dessa qualidade, nem frio que justifique o uso". Porém destaca o da marca Da Fazenda, uma empresa do Rio Grande do Sul, que fabrica a Lã Merino com tingimento natural. 

Com este fio Lisi desenvolveu um xale encomendado pela designer italiana Paola Albergamo, de Roma. Instagram @PaolaKnitz. Para este trabalho, conta que participou de uma seleção, junto com outras 700 profissionais, de vários países, e foi escolhida entre as 10 primeiras. A empresa Da Fazenda patrocinou o fio e Lisi a manufatura da peça, como uma parceria. A publicação no site da designer, com milhares de seguidores, trouxe visibilidade para ambos  e acrescenta: "São essas coisas diferentes que eu gosto de fazer".

 

A transição para as aulas online foi difícil. "Não tenho habilidade com essa tecnologia. Uso internet somente para estudar e pesquisar. Contei com a ajuda do filho, do marido e das próprias alunas", e conclui: "mas parece que aula não rende tanto quanto a presencial. Tenho que ficar mudando a posição da câmera, para que a aluna veja o que estou fazendo e então reproduzir". No resultado final, pensa "que a aluna não está aprendendo tudo o que eu gostaria ou o quanto que eu queria. Embora elas não achem isso".

Em contrapartida reconhece as possibilidades que esta nova realidade lhe deu e o alcance que tem. "Isto me permitiu ter alunas dos mais distantes lugares.  Dos Estados Unidos, do Piauí, do Rio Grande do Sul, do interior de São Paulo", relata. Antes pesquisava só para as alunas que iam na minha casa, hoje trabalha muito mais do que quando eram aulas presenciais. "Quanto ao ganho, o fato de trabalhar mais não reflete aumento de remuneração" confessou.

Sobre mais interação, comenta que "acabamos de montar um grupo de estudos com a participação de uma colega do Rio Grande do Sul, duas de Curitiba, uma de São Paulo, do Rio de Janeiro e uma dos Estado Unidos", comenta. No Brasil, há cerca de 30 professoras deste nível. A internet possibilitou maior contato entre essas profissionais.

Foi um ano de mudanças, descobertas e alterações de planos. Lisiane revela que tinha uma viagem programada pra levar um grupo de alunas ao Great London Yarn Crawl. Explica que "assim como existe o Pub Crawl, quando as pessoas vão de bar em bar para beber, no Yarn Crawl você paga ingresso e as lojas fornecem receitas exclusivas e promoção na venda de fios". Muitos outros eventos foram cancelados, mas com otimismo ela comenta: "tudo voltará ao normal e muitas viagens hão de acontecer.

Mesmo com toda a prática e conhecimento que tem na arte de tricotar Lisiane diz que ainda há muito o que aprender. Alcançou reconhecimento entre os grandes profissionais deste ramo, mas não perdeu a natureza simples, elegante, delicada e gentil de ser.



Legenda de foto para acesso do deficiente visual. #pracegover. 1- Foto montagem de Lisiane em frente algumas peças por ela confeccionada e outra envolta em um xale cinza confeccionado por ela. No card de fundo branco predominam as cores nude do rosa ao cinza. Na parte superior esta escrito em letras douradas o título "A arte do tricô por Lisi Margaux". Na parte inferior o nome do blog SuperLinda.Arte de Leticia Rieper.

2 - Foto montagem com 3 imagens do Encontro Mundial de Tricotar em Público. Em primeiro plano está Lisi ao lado banner de divulgação do Encontro. Em tamanhos menores, Lisi está ao lado das participantes.

3 - Foto montagem de dois modelos confeccionados pelas alunas de Lisi no projeto TJ. A primeira em cores branco, rosa e cinza, a segunda preto, laranja, branco e rosa. Os modelos são tipo cardigan até a altura do joelho.

4 - Foto do Instagram de Paola Albergamo expondo o xale confeccionado por Lisi. Paola usa calça comprida preta e blusa vermelha. No fundo um painel  de figuras geométricas em tons de verde musgo, branco acizentado e amarelo nude. O xale é de fundo tom terra com detalhes ovais na  cor vermelha com detalhes brancos ao redor no formato oval.

5 - Foto do banner do Encontro Gaúcho com Lisi e outras 7 professoras do evento. 

6 - Foto aproximada das mãos de Lisi tricotando uma peça com fio vermelho. 

 

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sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Enxaqueca: Só quem tem sabe o que é.


 

Ela chega sem pedir licença.  Não escolhe dia, hora, nem lugar. Toma posse do teu corpo. Te causa dor e quem manda é ela. Por algumas horas te coloca numa cama em quarto escuro e de lá você só sai quando ela vai embora. É assim que age uma enxaqueca.

Minha primeira experiência foi quando eu tinha uns 10 anos. No caminho da casa de uma professora, quando fui fazer reforço de aula, senti um leve incômodo no olho. Parecia que havia uma membrana branca e transparente que me impedia de enxergar com nitidez. Na sequencia vieram a dor de cabeça, o enjoo, e a ânsia de vômito. Assustada, e sem intimidade com a professora que me atendia,  me calei. 

Na saída, sem conseguir mais controlar o que saltava do meu estômago comecei a correr para casa. Chorava feito criança, como na verdade eu era, por medo do que estava me acontecendo e pela dor que fazia minha cabeça pulsar parecendo ter o dobro do seu tamanho. Quando entrei em casa, exausta, fui para o quarto, fechei a porta, coloquei um travesseiro sobre a cabeça e dormi. Instintivamente aprendi como fazer quando se tem uma crise de enxaqueca.

Mas, na verdade, eu sabia exatamente o que estava se passando comigo. Esse mesmo mal assolava a vida da minha mãe frequentemente e era comum ouvir os relatos que ela fazia sobre o que sentia nesses momentos. Além, de volta e meia, ouvirmos o pedido para que não fizéssemos barulho porque a mãe estava com enxaqueca. O mesmo comportamento ela passou a ter em relação às minhas crises.

Dessa forma aprendi a sentir na pele o significado daquele pedido e a conviver com esta doença por toda a minha vida. Ela surge sem explicar o porquê. As causas podem ter várias origens: alimentar, emocional, cheiros, calor em demasia, para mim, são as mais comuns. Muitos tratamentos e testes foram feitos e nunca consegui saber qual o motivo certo. A solução foi aprender a lidar da melhor forma possível com respeito à ela e ao meu corpo.

A expressão "só quem tem sabe o que é" cabe perfeitamente ao caso. O corpo não apresenta sintomas, assim como é a febre para uma gripe, um vermelhão para uma alergia, uma tosse, ou coisa parecida. Por isso a enxaqueca, muitas vezes, é considerada uma frescura, quando na verdade ela domina o teu corpo.

Um barulho de tampa de panela na cozinha ressoa como estampido de foguete, a claridade de um dia de chuva entra nos olhos como um facho de lanterna. Ficamos enjoados só de pensar em determinadas comidas. No meu caso, se estiver usando um perfume, num momento de crise, sei que nunca mais voltarei usá-lo. 

Não existe cura, existem remédios que aliviam a dor de cabeça. Ela é imprevisível, e dou graças pelas minhas, que assim como as da minha mãe, não duram mais do que duas horas. Passado este tempo é como se eu não tivesse tido nada. Motivo que leva algumas pessoas a acharem que uso a enxaqueca como desculpa, "só quem tem sabe o que é".

Ela é imprevisível, não respeita teus compromissos, te imobiliza e te faz voltar para casa. Assim como na primeira vez, hoje voltei quando estava a caminho da aula de Pilates. 

Legenda de foto para acesso do deficiente visual. #pracegover. Foto em preto e branco, rosto de mulher com máscara de dormir nos olhos. No card de fundo preto, na parte superior da foto está escrito em letras brancas o título do post "Enxaqueca: Só quem tem sabe o que é". Na parte inferior da foto está escrito SuperLinda.
Arte de Leticia Rieper.

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sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Assisti ao documentário A Juíza (RGB)


O documentário A Juiza (RGB) mostra a trajetória de Ruth Bader Ginsburg, Juíza da Suprema Corte dos Estados Unidos, nomeada pelo presidente Bill Clinton, em 1993.

"Me tornei advogada quando não queriam mulheres no Direito". Essa frase sintetiza a discriminação que ela enfrentou quando entrou na faculdade, em 1956, e as dificuldades do mercado de trabalho.

O documentário, disponível no Apple ITunes, traz entrevistas, fotos, filmes e arquivos que retratam momentos da vida pessoal e profissional da Juíza. As diretoras Betsz West e Julie Cohem captam a personalidade sensível, agradável, tímida, séria, introvertida e ao mesmo tempo divertida de Ruth.

Embora o foco seja ela, a importância, o amor, e o destaque dado ao marido e ao relacionamento do casal, é singular. Em discurso reproduzido no documentário ele afirma que era ele quem se ocupava da cozinha e da casa, enquanto Ruth fazia história.

A presença dessa mulher na Corte ficou marcada não só pela atuação nos processos judiciais. Ruth colocou um toque de feminilidade àquele ambiente austero quando mudou o figurino e passou a usar golas rendadas sobre a toga. Sensibilidade, inteligência, perseverança,  competência e elegância irretocável marcam o legado deixado pela Juíza Ruth Bader Ginsburg. (1933-2020). 

Documentário disponível no Apple ITunes e GloboPlay

 

 

#pracegover Vídeo de chamada para o post do blog feito com imagens do trailer oficial do documentário. Nele aparece Ruth Bader Ginsburg fazendo musculação, a chegada e o anúncio da presença dela em evento. Comentários   de convidadas exaltando a personalidade da Juíza. Entre as frases ditas por Ruth está “Tenho 84 anos e todos querem tirar uma foto comigo”. A arte foi feita com fundo branco. O título diz: Hoje na telinha do SuperLinda: A Juíza (RGB). Arte:
Leticia Rieper.

 


Trailer legendado do documentário A Juíza (RGB) - Link do YouTube.


Legenda de foto para acesso do deficiente visual. #pracegover. Na foto ilustrativa do post Ruth está sentada numa poltrona de cor bege, com as mãos sobrepostas, ao fundo parede escura. Ela usa toga de cor preta com gola/colarinho de renda branca. Cabelos presos na nuca, brincos tipo botão de pedra verde esmeralda, óculos de aro preto e lente branca.

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