domingo, 31 de janeiro de 2016

LETÍCIA, UMA CAMINHONEIRA


Uma coisa puxa outra...
No meio de tantos caminhoneiros não me passou desapercebido o número significativo de mulheres no volante de caminhões.
Sim. Elas são caminhoneiras. Braços musculosos, entendem de mecânica e têm ouvido sensível à qualquer ruído no motor.

Quando a vi atravessando o pátio de estacionamento falando no celular, com uma chave de pendurada no pescoço, foi fácil deduzir que ela era mais uma das tantas que eu já tinha visto.
Abordei e perguntei se era caminhoneira. Ela confirmou que sim. 
_Posso conversar com você?
Sorrindo respondeu sim.
_Dentro do seu caminhão?
_Claro vamos ali.
Entramos, me apresentei e ela foi se desculpando pela bagunça...rsrsrs. Bem se vê que não me conhece.

A resposta à primeira pergunta me deixou muda.
_Você é de onde?
Ao que ela respondeu:
_Sou de Joinville.
É muita coincidência. Mas não lhe disse, de imediato, que eu também morava em Joinville, para não inibi-la. Muita inocência, a minha. 

Ela falou com propriedade, firmeza e desenvoltura. Convincente do prazer que tem pela profissão.

Esta é Letícia. Uma #superlinda caminhoneira. Gaúcha, separada, 42 anos, mãe de um filho de 18 anos, filha de pai caminhoneiro. Não precisa dizer mais nada. Está na genética.

Sorridente, simpática e falante. Sem a menor resistência falou da profissão, da sua vida pessoal e amorosa, da  sua vaidade. 

Disse que saiu da função que tinha no escritório da empresa do marido, após a separação e optou por essa profissão porque gosta de liberdade. O primeiro caminhão que dirigiu foi um do Corpo de Bombeiros Voluntários de Araquari (SC) tornando-se a primeira mulher motorista da corporação. Trabalhou como empregada/motorista de outras duas empresas em Joinville, até que decidiu por comprar seu próprio caminhão com financiamento bancário que ainda está pagando. 
Me mostrou sem a menor preocupação as notas de frete para conferir a quantidade de toneladas que estava transportando.
Mesmo tendo passado por dois momentos de perigo no exercício do seu trabalho, não pretende trocar por outra profissão mais segura e pacata. Há um ano sofreu um acidente na serra de Curitiba que a deixou 6 meses sem poder trabalhar. Em outro momento sofreu um sequestro por assaltantes que roubaram a carga que transportava. Duas situações que exigiram tratamento médico e psicológico para dar continuidade à sua vida profissional.

A vida dentro do caminhão, posto de combustível e a estrada é um desafio compensador. Adrenalina necessária na sua vida. Gosta de estar sempre em lugares diferentes, conhecer e conversar com as pessoas que vai encontrando.

Sua relação com os caminhoneiros homens é muito normal. Pelo cruzamento de olhares consegue entender se o "cara" está olhando para ela como profissional ou mulher e este entendimento faz toda a diferença na forma como ela vai se dirigir àquela pessoa. Ou como ela mesma disse:
_Passo reto sem dar a mínima chance daquele homem se aproximar.
Já teve relacionamentos afetivos com homens da mesma profissão que a sua, como qualquer outra mulher de diversos setores de trabalho.

A vaidade feminina está a olhos vistos. Brincos de pérola, corrente dourada, pele bronzeada, adora dançar. E disso se aproveita quando viaja para o Nordeste. Entre uma espera e outra para descarregar ou carregar o caminhão, ela própria faz e pinta suas unhas, seus cabelos, faz a sobrancelha e depilação. 
Perguntei:
_Mas como você faz tudo isso sozinha?
_ Ahh...dou meu jeito.

Letícia, você é mais uma grande personalidade que conheci.
Obrigada pela sua conversa, disponibilidade e simpatia.
Boa viagem caminhoneira! 

  
                                 
                           

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O #SUPERLINDA PELAS ESTRADAS DO BRASIL AFORA


Foram 7940 km rodados pelas estradas do Brasil durante 31 dias. Nunca poderia imaginar uma experiência tão rica.

Quem acompanha o #superlinda observou que durante este mês de janeiro reservei o blog para publicações dessa viagem de Joinville(SC) à Santarém(PA) com destino à Alter do Chão. Ainda tenho muitas histórias para contar e outras tantas lembranças que ficarão guardadas comigo pelo resto da minha vida.

Mas este post de hoje é especialmente para VOCÊ. Meu parceiro, meu companheiro, meu amigo. Quero agradecer o carinho, o cuidado, a gentileza, a educação, a atitude, a paciência, o bom humor, a compreensão, mas principalmente o RESPEITO que você teve por mim.

Você é um homem digno e tem personalidade. Você me fez rir muito, soube fazer um dia diferente do outro, limpou minhas lágrimas com seu sorriso. Não vislumbro a possibilidade dessa viagem ter acontecido se eu não tivesse conhecido você. Expor minha vontade de realizar uma viagem assim, coincidir com a possibilidade de você me proporcionar, somada à empatia que aconteceu entre nós dois, só pode ser uma daquelas situações baseadas na expressão "nada acontece por acaso". 

Durante todo o tempo não tive vontade de estar em nenhum outro lugar, senão aquele em que estava e de estar ali com você. Lembro de já ter dito isso...rsrs

Um homem não se mede pela sua profissão e sim por sua índole e caráter. Com anos de experiência nas estradas você me transmitiu segurança e tranquilidade durante todo o percurso. Fez desta viagem uma aula de conhecimentos gerais mostrando os problemas das rodovias no Brasil, das estradas pedagiadas, esburacadas e sem duplicação. Os desmandos com desperdícios do dinheiro público em obras e pontes inacabadas e me divertindo contando casos engraçados, outros de perigos ocorridos em suas viagens.
Adquiri conhecimento, desfrutei das belezas naturais no trajeto, bebi sucos, comi frutas e comidas típicas da região. Conversei com pessoas que vivem realidades muito diferentes da minha e o que ouvi só me fez crescer.
Vivi um mundo banhado de preconceito, onde todo caminhoneiro é vagabundo (sim é isso que a grande maioria pensa) e a mulher ao seu lado uma "mal-afamada" como diria a minha avó. O que vi foi uma rotina dura e cansativa de trabalho, de homens acompanhados de suas esposas e filhos, outros com suas namoradas ou companheiras e muitos deles sozinhos. Não vi em momento algum, nenhum sinal das orgias que pairam_em nossos pensamentos_ sobre a vida nos postos de combustíveis.

Saí para esta grande aventura, meio fugida dos filhos, como adolescente dos pais. Digamos que "omiti" o meio de transporte que seria usado na viagem. Para tranquilizá-los mandaria notícias/fotos diárias, foi essa a minha promessa. E o fiz.
Inteligentes que são, não demoraram a tirar suas conclusões e veio a pergunta:
_Mãe tu estás viajando de Scania???
Caí na risada e não tendo mais o que esconder respondi:
_Não é Scania é um Volvo.
O que ouvi na chegada foi: 
_Legal mãe, agora tu vas conhecer todo o Brasil de caminhão.

O apoio dos filhos, do meu irmão e de alguns poucos amigos à quem eu havia confidenciado era o que faltava para coroar essa incrível viagem de pleno êxito.
  
Aprendi. Você soube me conquistar e derrubou também os meus preconceitos. Não sou a mesma de ontem nem igual a de amanhã. Feliz com quem quer me ter feliz.
VIVI UMA DOCE AVENTURA.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

OUTLET EM ITUPEVA - SP

                                  

Outlet é um centro comercial ou shopping, ao estilo mall americano, de vendas a varejo, no qual os produtores e industrias oferecem suas mercadorias diretamente ao público, com preços mais acessíveis ao que é oferecido nas lojas. 

Geralmente localizam-se nas saídas de grandes cidades ou regiões metropolitanas, por isso o nome outlet, que em inglês significa saída, passagem, escoadouro e mercado. 
*Isso eu não sabia. Nunca tinha feito essa relação do nome em inglês com a localização física.
Estas são as explicações sobre o que na teoria é um outlet. 
Pela primeira vez fui à um. O de ITUPEVA em São Paulo. Sem conhecer, sempre achei que devia, por vender mais barato, um lugar bagunçado, assim como loja em semana de liquidação. Errei. É organizado, limpo, um lugar mais agradável do que shopping center por ser a céu aberto.

Quanto ao preço, é mais barato do que no comércio normal, mas há que se ter muita paciência e procurar com cuidado. Tem camiseta polo da famosa Tommy por R$ 190 assim como tem 3 camisetas polo na TNG por R$ 100. Impossível sair de lá sem uma sacola.
Resta-nos torcer para que os outlets do Brasil não se transformem nas nossas falsas Black Friday copiadas do modelo americano. 

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Lá no Santarém


Viver no Santarém pode ser fácil, mas sair de lá, eu diria: 
_Não é fácil não...
Uma cidade banhada pelo rio Tapajós, onde a maneira mais barata e a mais fácil para ir de uma cidade para outra cidade é por água. 
A distância, por exemplo, entre Santarém e Belém, capital do Estado do Pará, é de 698 km em linha reta. Porém, por terra é preciso percorrer 1318 km de estrada para fazer está viagem.
Foi a primeira vez que ouvi falar em distância fluvial como algo corriqueiro.
A rápida passagem do #superlinda pelo Santarém foi para conhecer a região portuária da cidade. 
O movimento é muito grande. Pessoas que entram e saem das embarcações como passageiros ou trabalhadores com produtos de abastecimento às cidades ribeirinhas.
As redes para os passageiros relacionei com os nossos tão comuns ônibus leito para viagens de longa distância. Os horários e o destino estão destaque na parte da frente dos barcos. 
Em seguida a visita ao Mercado do Peixe e ao Mercado Público. Pacu, pintado, ervas e remédios que tudo curam,  muitas farinhas, frutas e verduras e o tucupi para o seu prato mais famoso.




domingo, 24 de janeiro de 2016

NO KM 110 da TRANSAMAZÔNICA TUDO PODE ACONTECER

Considerado o ponto crítico dessa rodovia, o KM 110 da Transamazônica, no Pará, próximo 40 km "do" Rurópolis, como falam aqui, é uma referência.
Por ser a mais íngreme é tida como a pior das subidas neste percurso, muitos caminhões já ficaram ali no meio do caminho.
Há quem diga que subir o 110 é a prova para saber se quem está na direção é um caminhoneiro ou um motorista de caminhão. E se você não sabe a diferença entre um e outro, só sei dizer que "quem é caminhoneiro não fica parado na subida do 110".

                                
Vista geral da parte dos fundos da lanchonete onde sentamos para comer, com direito, se quiser, de se esticar nas redes.
Foi bem neste ponto que Dona Cota, vinda de Imperatriz (MA) se instalou há 38 anos. Com os constantes pernoites forçados na estrada, ela começou a vender lanches aos caminhoneiros encalhados e para os outros tantos que paravam para auxiliar seus companheiros. 
Com o passar do tempo, com o aumento do movimento da estrada e por sugestão deles, Dona Cota passou a servir refeições completas.
Seu comércio cresceu e ficou muito conhecido. Ela fala disso com orgulho e diz, apontando, que até os engenheiros da empresa de pavimentação da estrada param ali para almoçar.


                                 
O primeiro contato do #superlinda naquele local foi com a Cátia, neta de Dona Cota. Estudante do 9ºano escolar, 15 anos, simpática e sorridente deixando à mostra o aparelho ortodôntico que usa. Ela me contou que não gosta de matemática. Não compreende o porquê "de tantas contas tão grandes que gastam até uma folha de caderno para chegar a um resultado de zero".  Me disse também que ali ainda não tem Internet "mas vão colocar logo", que o telefone é um celular rural e funciona muito bem.
No balcão de atendimento à mercê de qualquer cliente mais inconveniente ela se impõe como gente grande e trata à todos por igual.


     
      
Para o almoço, Selma prepara peixe frito, carne de porco cozida e depois frita, cozidão (carne de panela com batata), arroz, baião de dois, três tipos de farofa, feijão e salada. 
_Ninguém resiste!
Quando tudo está pronto, Selma serve o almoço num aparador que era o antigo fogão de carvão de Dona Cota.
O espetáculo fica por conta do sorriso de Selma e das suas panelas brilhantes sobre o FOGÃO À CARVÃO. Perfeito para qualquer cozinha que você queira dar um toque de decoração rústica, aqui é usado como se fosse um eletrodoméstico de última geração. Útil, econômico, sustentável e não faz fumaça.
Nota *o carvão é feito de madeira descartada pela própria natureza.


                                            
                                  


A essa altura eu já estava me sentindo em casa. Lá nos fundos enxergo alguém lavando roupa e me aproximo. Ela se chama Maria. Solteira, nascida numa família de oito irmãos, tem uma filha de 7 anos. Trabalha como diarista, por R$ 40, em  somente dois dias porque não há mais oferta de serviço. 
Conversou o tempo todo comigo quase que sem me olhar, até que notei suas belas unhas e perguntei como ela conseguia mantê-las tão lindas executando aquele serviço e ela respondeu:
_É um olinho que compro lá no Santarém.
Saí de lá sem saber que "olinho" milagroso é esse. Quando pedi se podia fotografar ela não se negou.
Mulher vaidosa é assim mesmo, não resiste à fazer pose de modelo. 

Um mundo cheio de privações de acordo com os nossos conceitos. Pessoas que trabalham, estudam, dão duro na vida, têm família, aperreios, alegrias e tristezas. É assim que a gente aprende que ser feliz é saber administrar a vida que temos.