terça-feira, 6 de março de 2012

Carta Para Astrid Fontenelle



Hilda Borba


Querida Astrid,


Há algumas semanas uma amiga me contou que você, através das redes sociais, manifestou com muita transparência e tristeza o diagnóstico do seu problema de saúde: lupus.


Sou sincera em dizer, que não eu tinha lido nada, e embora tenha me sensibilizado com a notícia quando fiquei sabendo,  foi ela que sugeriu que escrevesse e contasse para você a nossa experiência com pessoas portadoras do Lupus.


Primeiro, o nome da minha amiga/cunhada é Hilda Crisostomo Borba , a Hildinha (hildaestrela@uol.com.br). Sua mãe, de nome igual Hilda Crisostomo Borba, teve diagnóstico de lupus por volta do ano 1958 com 39  anos de idade. Hilda Borba, como fazia questão de ser chamada, era pernambucana, baiana de vida e amor à Bahia.  Saiu de Recife mais ou menos em 194O, indo com seu marido e dois filhos, Virgilio e Hildinha, para Salvador. Mais tarde foram morar em Santo Amaro da Purificação (BA). Sim...isso mesmo, a  terra de Caetano, Betânia, D.Canô. Todos se enchem de orgulho quando dizem que moraram lá e que foram amigos de infância, sendo que os outros dois filhos de Hilda Borba, Rui e Maria de Fatima, nasceram em Santo Amaro.


Esta localização no tempo e no espaço, é porque sei que você, se não é baiana de nascença (como dizemos nós, os catarinenses), é de coração, porque vive por lá e sempre fala das delícias da Bahia.


Bem, foi através do convívio  com a D.Hilda, que tive pela primeira vez, contato com uma pessoa com esta doença. Aliás, foi quando eu tive conhecimento da existência desse mal. 

O que mais me impressionava na época, é o quanto falavam da gravidade da doença e quanto mais eu olhava e convivia com a D.Hilda, menos eu conseguia ver sintomas ou comportamento de uma pessoa doente. 

Isto não quer dizer que a doença, nela, não se manifestava. Várias vezes ela teve complicações, que só através do aumento da dosagem de cortisona (o terror do paciente de lupus)  ou mesmo o internamento hospitalar, era possível dar um "chega prá lá" nesta danada ... (a doença). Fora isso, Hilda Borba, viajava de carro ou avião, sozinha ou acompanhada, cozinhava, praticava sua fé em seu Centro Espírita Aluizio Reis Carneiro em Salvador, jogava baralho, fumava (tá bom! isso não era muito certo, rs) .


Astrid, não podemos te dizer que não se preocupe. É uma doença com altos e baixos e é grave. Mas queremos te passar a confiança de que terás uma vida longa, e que teu filhinho, levará sim, algumas broncas da mamãe, por ter chegado tarde das baladas, ainda mais agora que não podemos dar uma palmadinha, "só para situar a criaturinha", porque é crime ... risos.


Sem querer me estender, mas é importante, porque quando temos um problema e sabemos de outras que também o tem, cria-se uma cumplicidade. 

Conheço mais duas mulheres (será que o sexo feminino é mais suscetível à essa doença?) muito próximas de mim, portadora de lupus. Todas as duas, trabalham, cuidam de seus filhos, viajam e volta e meia estão às turras com o seu lupus.


Voltando à D.Hilda, hoje ela já não está mais conosco fisicamente. Os espíritos a chamaram, aos 79 anos de idade, porque precisavam dela lá no outro mundo,  e vale te dizer que ela morreu com crise de angina e não em consequencia do lupus. É claro que estamos falando de assunto médico, como leigas, mas foi mais ou menos isso que ocorreu.


Todos os que conviveram com a D. Hilda sabem que ela sempre nos passava esperança na vida e pela vida com ânimo e bom humor, e, algumas vezes, também mau humor porque ninguém é de ferro. Levava uma vida normal com os cuidados necessários, sem sofrimento antecipado, e é esta a mensagem que a Hildinha gostaria de te passar,  e é o que eu também desejo para você.


Um grande abraço,


Raquel e Hildinha.

6 comentários:

Raquel Ramos disse...

Comment:
Também assino a mensagem de Raquel e Hildinha par Astrid integralmente.  Permita-me apenas um pequeno acréscimo: não se revolte, procure viver a vida como se nada está ocorrendo. Isso é tudo que o lupus mais deseja para lhe maltratar ainda mais. Tome seus remédios, siga direitnho a prescrição médica, evite tomar sol e acima de tudo viva. Viva cada instante como se estivesse recebendo um presente de Deus, mesmo dizendo para si mesma que não gostou do presente. Nós Astrid sempre nos perguntamos porque Deus nos deu certos presentes e muitas vezes nos indignamos, nos revoltamos. Mas Deus, por ser Deus sabe porque escolheu aquele presente para nós,
Palavras do filho mais velho de D. Hilda, um exemplo de vida, que também ganhou seu "presentinho" do Pai.
Beijos,
Virgilio

Anônimo disse...

Raquel... A palavra certa , na hora certa !!!! é o quê no mundo de hoje se faz necessário ... Um dom que não se pode deixar passar em branco !!!! parabéns com grande abraço de sua amiga virtual

Fernanda Reali disse...

muito bom!

Helio disse...

Excelente texto. Eu sou testemunha que D. Hilda teve vida longa, pois trabalhei muitos anos com o filho dela Rui.

Anônimo disse...

Alguém sabe dizer o nome do médico que tratou D. Hilda?

Raquel Ramos disse...

Se você se identificar, sim.