quarta-feira, 8 de abril de 2020

Para a minha amiga terapeuta.

Foto usando máscara de proteção ao coronavírus nas cores vermelha branca, com escrita em letras brancas da frase O papel do psicólogo nos dias atuais.
Há algum tempo falei para a minha terapeuta que não precisava mais dos trabalhos dela porque estava me sentindo bem. Cheia de confiança, ou seria por insegurança, sugeri fazer sessões em períodos mais espaçados. Firmemente ela disse que do ponto de vista profissional não poderia me dar alta e eu acatei.

Tenho me perguntado se ela possui poderes "extra sensoriais" para adivinhar que passaríamos por momentos de tanta turbulência como os que estamos vivendo. Em tempo de isolamento social, com a responsabilidade de sempre, ela tem me dado assistência virtual, nos dias e horários que eram as sessões presenciais. Posso afirmar: ela não é minha amiga, mas é a melhor amiga que eu poderia ter nesse instante.
 
Todos vamos sair desta crise e vamos sair perdendo alguma coisa, isto é certo. A diferença é que alguns sofrerão mais, outros menos. A condição de saúde, as perdas em todos os sentidos, a situação econômica e financeira de cada um vai ser determinante no resultado final.  Mas hoje, tenho certeza de que quem tem um terapeuta, quem mesmo em outros momentos da vida, soube aceitar a importância e a necessidade deste profissional, sairá com menos sequelas emocionais.

Algumas pessoas afirmam que quem faz terapia é fraco ou não dá conta de si mesmo. Pois eu digo que só os fortes e corajosos são capazes de encarar este processo. Fazer terapia é tomar atitudes. Atitudes de aceitação ou de mudanças que não se tornam mais fáceis, nem menos doída, só por ter sido aplicada pelo psicólogo. De prêmio, apenas a sensação da conquista como se fosse por méritos próprios tal é a sutileza com que ele atua sobre você. 

Mas não espere palavras de consolo, em se tratando de um terapeuta, esse, não é teu amigo, ele é um técnico. Eis a diferença entre o amigo que aconselha e o terapeuta que te vê como um paciente e te faz enxergar com clareza, sem distorções os caminhos a seguir. É aquele que assiste o teu choro e sem compaixão ou dó te faz ver a realidade. Te tira do mundo da fantasia, separa as distorções da tua mente infantil a do adulto.

O terapeuta também não garante a mudança, afinal somos seres com incertezas, medos e principalmente acomodação. Mudar dá muito trabalho, se responsabilizar pela própria vida, também, e pela própria felicidade, mais ainda. É preciso ter coragem. 

Os enfrentamentos são grandes, é uma verdadeira guerra que travamos com nós mesmos e com o mundo externo, com a opinião da família e do outro. Não conseguir tomar atitudes é muito mais fácil. Se encolher e se sentir incapaz é uma desculpa que damos a nós mesmos com certo conforto e alívio.

Nessa guerra que estamos vivendo nos últimos dias, não vemos as armas e fuzis, vemos máscaras, álcool gel, aumento dos leitos hospitalares e respiradores. Não vemos os soldados inimigos, eles são invisíveis e por isso mesmo nos deixam incrédulos. Embora a morte seja a única consequência irremediável, o emocional de todos passará por mudanças drásticas na rotina da vida.

Só com os amigos terapeutas, nem tão amigos assim, é possível baixar os sintomas de ansiedade, originários de uma crise real. Só com o trabalho deles é possível diminuir o sentimento de raiva que vomitamos a todo instante sobre quem insiste em sair da quarentena, ou sobre os que defendem o isolamento vertical. Nos dão discernimento para analisar o que é certo ou errado no mundo fake das redes sociais.

Agradeço a minha querida terapeuta que me recoloca na linha quando saio do trilho. Mostra onde encontrar a segurança. Organiza minha desorganização pessoal e emocional. Um equilíbrio que vai fazer toda a diferença no enfrentamento do período pós quarentena. Com ela sou estimulada a ter pensamentos e atitudes coerentes dentro da minha realidade e e entre os que estão ao meu redor.


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