A cantoria invadia as
ruas por noites afora, em alto e bom tom, fazendo o som das violas
entrar nas casas sem pedir licença. Nessa época de verão, tempo de
Terno de Reis, quando as famílias ainda tinham o hábito de
sentar na varanda, e não dentro de casa no conforto do ar
condicionado, era esse o barulho que esperávamos ouvir vindo das ruas.
Lembro da
risada da minha Vó Mila, na alegria de ver um grupo cantante se
aproximando. Ela reconhecia os componentes, um a um, e se
dirigia a eles pelo nome ou fazendo referência à família a qual pertenciam. Esses cantores,
formados por amigos entre si, passavam de porta em porta fazendo
louvações aos donos das casas, que sempre abriam os portões,
penduravam-se nos muros ou janelas a ouvi-los.
Esta ainda é um
lembrança muito viva dentro de mim e me remete à Tijucas e ao
Perequê. A primeira é a cidade onde nasci, no interior de Santa
Catarina, e a segunda a praia em que passei a infância e juventude.
Junto com essas lembranças chega forte também, recordações de
meu pai Gercy. Ele nunca deixou que saíssem da sua casa sem antes
oferecer um gole de whisky, enquanto a minha mãe Zelândia,
aproveitava aqueles momentos para fazer a voz feminina do grupo.
Era uma verdadeira
festa. Rápida, mas muito aguardada e bem vinda. Como diziam eles:
“Estamos de passagem”. E saiam ao som de “Viva o Santo Reis!”
ao que todos respondiam: “Viva!”.
O Terno de Reis é um
patrimônio imaterial da cultural brasileira, de influência
portuguesa e cristã. Sua prática precede o Dia de Reis celebrado em 06 de
janeiro. Segundo relatos bíblicos, esta data é comemorativa a visita de Belquior, Baltasar e Gaspar para Jesus, quando lhe foi oferecido de presente ouro, incenso e mirra.
"O Evangelho de Mateus relata que magos vindos do Oriente procuravam o
rei dos judeus, cujo nascimento fora anunciado a eles por uma estrela.
Eles vêm de diferentes caminhos e anseiam pela criança divina.
Representam o ser humano de diferentes raças e culturas, de diversas
religiões e costumes e pretendem descobrir o mistério da vida. Eles não
são mágicos, mas sábios que seguem as indicações das estrelas". Festa dos Reis: tradição, cultura e fé. CNBB - Dom Leomar Antonio Brustolin - Bispo Auxiliar de Porto Alegre.
Cantoria de Reis - Tijucas (SC) link da página do FB.
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