terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Joinville das Águas - Piraí

Está é uma reportagem feita originalmente como trabalho acadêmico, desenvolvidos pelos alunos da 4a Fase de Jornalismo, Fernanda de Lourdes Pereira, Leticia Rieper, Kaue Natan Vezentainer, Israel Antunes e Raquel Ramos, para a matéria Jornalismo Digital III, professora Kérley Winques,  da Faculdade de Jornalismo Bom Jesus Ielusc. O SuperLinda mostra hoje o segundo capítulo. Piraí.

A matéria completa pode ser vista clicando no link https://readymag.com/u89483194/904359/


Praias são zonas balneares sejam elas de rio ou de mar. Muito mais comum no interior do que no litoral, as praias de rio existem com muita beleza e esplendor. Que digam os moradores do Estado do Goiás, Mato Grosso, Tocantins, Pará, Amazonas  e os de Joinville, em Santa Catarina.

Mais próximo de nós, na região Sul, que falem os gaúchos e suas belas praias de rio. E porque não chamar nosso vizinho, o Uruguai, para mostrar a famosa praia formada pelo Rio da Prata em pleno centro da capital Montevidéu.

Os rios brotam de nascentes, descem cachoeiras, passam por baixo de pontes, atravessam cidades e quando encontram com uma parte arenosa de pedra ou de areia, cascalhos, seixos se tornam verdadeiros tesouros chamados praias.


A procura por recantos de lazer, descobrimos uma Joinville rodeada de praias de rios por todos os lados. Nossa equipe foi para o bairro Vila Nova, conhecido por sua tradição germânica. Até 1940, o bairro era chamado Neudorf - Vila Nova em alemão, um idioma que até nos dias de hoje, ainda se ouve pelas ruas da cidade.


O trajeto a percorrer é em direção à estrada do Arroz, com foco na Cachoeira do Piraí. Ainda na região central do bairro, cerca de 10 km até a Cascata,  avista-se por entre carros, placas de sinalização, propagandas, e semáforos a imponente cachoeira incrustada na pedreira ao longe, parecendo um quadro na parede da Serra do Mar.


Este é um bairro da zona rural, em que a linha que separa o centro urbano do bairro ao da sua zona rural, propriamente dita, é tão tênue quanto rápida e próxima em distância. A passagem se dá sem que nos demos conta de onde começa um e termina o outro. Assim, logo alcançamos a estrada de chão margeada pelas casas típicas, pastos com animais se alimentando. Uma Igreja da Comunidade Protestante Luterana de 1955, surge no cenário impondo respeito com a sua torre pintada na cor verde e jardins bem cuidados.

Cerca de 2 km de um ponto ao outro  começam a surgir, os primeiros sinais de terras cortadas por rios. Uma região muito procurada por ciclistas, que transitam pelas estradas empoeiradas fazendo atividade esportiva e por lazer.










As paradas ao longo da estrada são um misto da necessidade de descanso aliado ao prazer proporcionado pelo sol, pelo calor e pela beleza da natureza. Uma verdadeira praia forrada de seixos no chão de águas translúcidas que refletidas pelo sol brilham feito diamantes.
Por todo o caminho, sempre costeando as margens dos rios, que parecem infindáveis, surgem carros emais carros estacionados na beira da estrada. Seguramente, bem próximo, e já dentro da água, há de se encontrar uma turma de amigos e familiares se banhando.
Foi assim que nos deparamos com Evandro Barbosa, 30 anos, mais um trabalhador na área de construção civil. Junto com a família, amigos e com todo o aparato para fazer o churrasco de domingo. Um lugar, que ele frequenta desde "moleque", fala com desenvoltura e como grande conhecedor do lugar. Assam carne na churrasqueira improvisada, encostada à ponte pichada por quem por ali passou deixando marcas de tinta.


Porém, Evandro alerta para os perigos que o rio pode trazer. Mesmo com toda descontração que o dia proporciona é necessário ficar atento aos sinais de chuva ou trovoada. Ocorrendo estes fenômenos é preciso se recolher para não correr o risco de ser atingidos por um raio. Quando chove na serra, em questão de 15 a 20 minutos tudo aqui pode encher e a correnteza provocar acidentes e até morte. É como uma avalanche, conclui ele.


Enquanto banhistas ocupam espaços para lazer à beira das praias que se formam ao longo da Estrada do Salto, ambulantes montam barracas, colocam mesas e bancos, abrem o porta-mala do carro e usam com um balcão para a venda de produtos.  

O Sr. Aristides é um deles. Trabalha na construção civil e mora no Vila Nova há 25 anos. Aos fins de semana, para completar a renda necessária na educação de suas duas filhas, transporta em seu carro, água, refrigerante, cerveja, salgadinhos e sai para vender.  Mesmo que a grande maioria dos frequentadores dos banhos de rio levem de casa sua própria comida e bebida, sempre tem algum lucro nas vendas. Principalmente com a chegada do verão, já tão próximo, quando o número de pessoas aumenta em grande proporção, confirma Aristides, como quem faz um balanço mental.

Neste clima de conversa boa, paisagem variando entre os quatro elementos da natureza, a água, a terra, o fogo e o ar, percorridos os 10 km do centro do bairro ao final da Estrada do Salto nos deparamos com a grandiosidade da Cachoeira do Piraí.
Uma construção de arquitetura austera, ao estilo alemão, como é de costume dizer na região, guarda os segredos da burocracia, a política e as negociações desde a concessão desde a geração até o fornecimento da energia elétrica em Joinville.








O que é um grande atrativo turístico, hoje é um patrimônio da Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina), pouco explorado. O acesso não é permitido e a visitação do público só é possível uma vez ao mês. Quem chega até lá se depara com a frustração causada por um enorme portão de ferro, que barra a entrada, sem ninguém para dar informação, diante de tanta beleza ao seu alcance sem poder se aproximar.




Ao contrário das terras da Celesc, a uma distância de menos de 800 metros do pé da cachoeira,  propriedades particulares exploram suas áreas de forma organizada. Em terras rurais as águas reinam exuberantes. Se despencam cachoeira abaixo e se jogam sobre as pedras a deslizar como a leveza que só as bailarinas tem. Chegar próximo à elas exige o esforço de vencer trilhas pela mata. Esforço que se diluí com os prazeres encontrados pelo caminho. Inclusive com a surpresa de encontrar um lagarto que deixa em suspense uma questão: Quem se assustou mais?  O lagarto, que some na rasteira, diante do assustador grito do enorme ser humano ao invadir o seu espaço ou o humano ao avistar o pequeno animal nativo?


As folhas secas no chão moídas sob os pés de quem caminha sobre elas, misturadas ao barro molhado faz exalar o cheiro de terra molhada depois da chuva. O aroma que sobe da terra, provoca sensações de prazer e bem estar. É quando o som do canto dos pássaros, toma proporções ensurdecedoras no meio de tanto silêncio.

Dessa maneira, fica fácil perceber a aproximação de mais pessoas em busca dos segredos da mata e das águas. Sempre à procura de recantos naturais, Daiane Cristina Ribeiro e seu marido, ela enfermeira de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), ele técnico em manutenção elétrica, casados há 3 anos. Ali mesmo, no meio do caminho eles contam sobre o encanto da última cachoeira encontrada.

A frente do recanto Vale do Ouro, o casal Samir e Simone mantém ativa a sua propriedade particular há 5 anos. Foram anos difíceis, fizemos muitas mudanças, como por exemplo a proibição de subir as trilhas portando bebida, comida e fazer uso de droga. Estas restrições, num primeiro momento, fez com que diminuísse muito o número de visitantes. Aos poucos a chegada de pessoas com o comportamento adequado à novas normas, trouxe, por este mesmo motivo, mais amigos e familiares. A propaganda boca a boca trouxe a normalidade do público.

Samir contou, depois de perguntar se havíamos encontrado sujeiras pelo chão, que antes as pessoas jogavam restos de comidas e latinhas de bebida no caminho e na água. “Deixavam tudo muito sujo, desagradando quem viesse mais tarde". Hoje, só é permitido subir levando água ou fruta. Ex Militar, por afinidade, contrata como ajudante outros soldados. Desta forma conta com pessoas responsáveis e de sua confiança para auxiliá-lo.  Tudo é explicado quando os visitantes entram no portão. O valor cobrado de R$ 15, dá direito a permanecer pelo tempo que desejarem.


São 8 cachoeiras no total sendo que as 4 primeiras podem ser feitas livremente. Para as últimas, de acesso difícil, é necessário agendar, ter no mínimo quatro pessoas e máximo 10, e é necessário a presença de quem conhece o caminho e de um resgatista. Samir Migdady é também Presidente da  ATERRJ - Associação de Turismo Eco Rural de Joinville. Ele elogia os associados, que trabalham com o turismo rural. São pessoas com determinação e força de vontade. Trabalhamos sozinhos sem apoio do poder público, diz ele. "O que possuímos em conjunto é um programa chamado Viva Ciranda que traz as escolas do município as propriedades com ônibus próprio.”

No trajeto encontramos o Sr Emiliano Bueno. Ele se identifica dizendo ser conhecido na região como o "Índio". É só perguntar onde o índio mora que todos sabem, até o cachorro, diz ele fazendo graça de si próprio e com orgulho da boa relação que tem com a população local. Morador do bairro, usa a bicicleta para se locomover de casa para o trabalho, gosta da vizinhança e garante que os visitantes dos finais de semana, em busca das águas e cachoeiras locais, não incomodam nem atrapalham.

Assim é a Estrada do Salto, como é chamada. Um caminho estreito, sinuoso, mas de fácil acesso. Seus moradores demonstram satisfação e tranquilidade em fazer parte daquela comunidade.















Seu blog dá acesso ao deficiente visual? Fotos da estrada, águas dos rios e cachoeiras da Estrada do Salto em Joinville - SC

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