sexta-feira, 29 de abril de 2016

DA SOLIDÃO DO CAMINHONEIRO NAS ESTRADAS


O reencontro em 2014 entre Sidor Albrecht, 57 anos, catarinense da cidade de Palmitos e sua filha, ainda hoje emociona a ele e a quem assiste ao vídeo. 

Sidor é caminhoneiro e conheceu a mãe de Vitória, com quem teve uma relação afetiva, quando foi trabalhar em Fortaleza (CE). Após alguns anos o casal se separou. Ele pegou a estrada e foi embora deixando a menina, de apenas 2 anos, com a mãe. Outros fatores, também contribuíram para que eles perdessem o contato entre si. A história completa esta contada neste vídeo Vide o vídeo.

A estrada que um dia os fez pai e filha foi a mesma que os separou.

Da rotina da vida de caminhoneiro muito se fala, mas da realidade de suas vidas, poucos sabem. A vida deles é uma vida à distância. À distância da família, dos seus amores, dos afetos e dos carinhos.
 
São morados das estradas, residem em pátios de posto de combustível, sentem falta de necessidades básicas de conforto, mas é da solidão o mal do qual mais sofrem.

Trabalham e moram sobre casas rodantes transformadas, à noite, em quartos escuros cobertos de ideias fantasiosas de sexo. Ideias minhas, suas, nossas, muito mais do que deles. Estão cansados da satisfação física seguida da solidão que insiste em permanecer ali. Anseiam por relações afetivas, por um café da manhã com pão francês quentinho sentados à mesa.  Se mostram cansados de acordar a cada dia tendo ao seu lado um caminhão diferente como vizinho.

Estão em constante conflito com a sua própria consciência pelo pouco convívio familiar que têm. E é essa mesma ausência, a maior das reclamações que recebem de casa. Cobrados como sendo uma situação imposta por eles, se sentem desprezados, pouco valorizados e desiludidos.

Os milhares de kms rodados fazem a distância se perder no tempo. Rompe fisicamente o amor entre pessoas, assim como os aproxima, fazendo 15 anos significar absolutamente nada. Diante de um abraço e um beijo, como aconteceu entre Sidor e Vitória, o amor de pai e filha revive da manta de piche sólido.

No pátio de um posto, no cenário de sempre, Marcos Franzão, também caminhoneiro, conheceu Sidor Albrecht. O lugar comum em que vivem, faz deles amigos sem precisar de apresentações. O assunto das conversas varia entre o valor dos fretes, os eixos dos caminhões, as cargas. Falam bobagens, fazem brincadeiras, contam histórias, confidenciam sentimentos e dramas.

A diferença deste contato rotineiro entre os dois caminhoneiros, foi a deferência, que meu amigo Marcos deu ao SuperLinda. No desabafo do colega, reconhecendo a bela história que acabava de ouvir, apresentou Sidor a este blog. Assim, tive a oportunidade de divulgar sua história mas principalmente de poder traduzir o sentimento que passa no coração destes homens do asfalto e da poeira. 

Expressar mais uma vez o respeito que aprendi a ter por vocês, caminhoneiros, faz do SuperLinda também um blog da estrada.



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