quarta-feira, 13 de março de 2019

Me formei jornalista e emudeci

Capa do convite de formatura

Faz sessenta dias que me formei e o título de bacharela em jornalismo pesou muito mais do que um dia eu poderia imaginar. A frase registrada no perfil do meu blog "penso tudo o que escrevo, mas não escrevo tudo o que penso" reverbera em mim com mais força.

A profissão é apaixonante. Ela fez de mim uma pessoa mais observadora e consciente. O jornalista pode não saber tudo, mas buscar a verdade dos fatos é um compromisso assumido em juramento. É uma obrigação para que se possa dar a notícia. "Fazer do seu trabalho um meio de servir a sociedade", foi o que foi lido na minha formatura.

Durante o curso, aprendi que existe o jornalismo opinativo e este pode ser aplicado em qualquer área. Mas, nada se compara quando se trata de política. A veemência, a agressividade, do jornalista político parece exacerbar-se cada dia mais. Um processo que atribuo como degenerativo e que vem ocorrendo há anos, conforme pode ser visto nas duas citações que seguem:

_A jornalista Liziane Guazina em 2006 escreveu no Observatório de Imprensa que  "Os jornalistas que cobrem política escrevem, na maioria das vezes, para eles próprios e para suas fontes".

_Ricardo José Torres, do mesmo Observatório da Imprensa, publica "Atualmente o leitor desinformado terá dificuldades para identificar e diferenciar as informações políticas e as informações policiais presentes nas páginas dos jornais, sites e mídas sociais, particularmente nos veículos tradicionais de comunicação".

Como cidadãos talvez pudessem falar abertamente o que querem, de acordo com suas convicções e ideologias, mas não. Jornalista é jornalista. Ele não é um escritor de notícias, ele é um informante da verdade dos fatos. O que todos esperam dele é credibilidade e confiabilidade. Em sendo opinativo, que tenha critério de análise. Ele é um formador de opinião.

É algo como: se é jornalista que está dizendo, então é verdade. Portanto não dá para levantar hipóteses, insinuações. Não dá para ficar de bate boca em rede social. Não dá para instigar o leitor à desconfiança contra este ou aquele assunto. Há que se ter responsabilidade.

Arrisco em dizer que o jornalismo poderia ser considerado uma ciência exata, com base no jornalismo investigativo. É verdade ou é mentira? Descobriu? Mostre o que descobriu. Há provas? Evidências? Alarmar não é a sua função. Tem que ser decente.

Penso que cabe, neste texto, uma citação do jornalista Luís Fernando Silva Pinto, no livro Correspondentes, sobre a sua trajetória na Rede Globo: "Não trabalhamos para servir a nós mesmos, somos um veículo, temos uma obrigação com quem vai assistir".

Dói na alma, depois de quatro anos de faculdade, agora com os sentidos mais aguçados, o que testemunho diariamente. Não me choco com o que leio nas redes sociais postados pelo público leitor. Mas, me agride ler jornalistas a fomentar discórdias em favor das suas simpatias ou antipatias pessoais.

E caso as citações feitas não sejam suficientes, recomendo mais uma. Sílio Boccanera diz: "A mídia britânica - pelo menos a parte que é séria - apura tudo com cautela para que a população não imagine coisas que não aconteceram. Por isso tem credibilidade". #ficaadica.

Se as redes sociais são os meios atuais de divulgação de notícias, e o são, jornalistas, por favor, apliquem o que aprenderam. Certo que já estudaram os critérios de noticiabilidade, conhecem as técnicas de apuração jornalísticas, as práticas, as fontes. Cadê as fontes? Onde estão? Quanto à ética, para muitos deles, parece que foi jogada no lixo tal qual a qualidade dos seus posts.



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